Ekiphrasis, a palavra mágica
Noção vem da retórica clássica e ajuda a entender um componente estilístico fundamental da crítica no rock journalism
Minha relação com o conceito de ekiphrasis vem de um mundo onde o tempo era sedimentar e tudo demorava com o peso de uma duração muito diferente ao frenesi das novas tecnologias que plugam nosso córtex à vertigem de uma mônada eletrêonica global. Nun momento ainda de transição para o digital fui cavoucando as redes para descobrir Papers, ensaios e livros que me permitissem como referência pensar a contracultura a partir de uma problematização deleuziana. O horizonte era e sempre foi esse em meu trabalho acadêmico. Meus projetos gravitam em torno desse núcleo. Pois foi cavoucando que de alguma maneira cheguei até o título de um livro que estava para sair no mercado editorial americano: “Lines of Flight: Discursive Time and Countercultural Desire in the Work of Thomas Pynchon”. Na época a sensação era marcada pela impotência da restrição do acesso pelo próprio mercado. Até dava para encomendar o livro físico porém os preços eram proibitivos e o tempo para isso também era uma demanda ingrata. Resolvi procurar o autor pela internet e consegui acha-lo. Stephan Mattessich, professor do Santa Mônica College. Escrevi para ele como um náufrago que joga mensagens em garrafas ao mar. Um belo dia eis que chega o livro em casa. O professor Mattessich me enviou sua obra com uma carta recomendando uso irrestrito de sua leitura da obra de Pynchon a partir da ideia de “desejo contracultural”. O impacto eu sinto até hoje porque isso me fez ler tudo o que pude de Thomas Pynchon e, num dos capítulos da obra de Mattessich ele explorava exatamente a maneira como esse autor usava a ekiphrasis de um tríptico da pintora surrealista Remedios Varo em O Leilão do Lote 49.
A ekphrasis é uma figura retórica que remonta à Antiguidade clássica, particularmente à Grécia, e se refere à descrição detalhada e vívida de uma obra de arte visual, como uma pintura, escultura ou qualquer outro artefato artístico. Ela diz respeito a algo como uma recriação da comoção estética original da obra através do uso da palavra. A ekiphrasis é algo como o que o poeta Vicente de Huidobro ilumina com seu verso (não basta cantar a flor, senão fazê-la florescer no próprio poema). A palavra vem do grego "ek" (fora de) e "phrasis" (fala ou expressão), significando, literalmente, “descrever de fora”. Em sua essência, a ekphrasis busca evocar uma representação visual através da linguagem, criando uma ponte entre as artes visuais e a literatura. Esse tipo de descrição vai além da mera reprodução de uma imagem: é uma recriação poética ou narrativa que tenta capturar a essência, o impacto emocional e a interpretação de uma obra de arte.
A ekphrasis não se limita, entretanto, à arte clássica. Ela se estende a qualquer tipo de arte que possa ser visualmente descrita, incluindo cenas da natureza, objetos do cotidiano ou até criações fictícias. O objetivo é permitir que o leitor visualize aquilo que é descrito, e muitas vezes isso ocorre de maneira mais subjetiva, interpretando o objeto descrito através da lente emocional e intelectual do autor.
História da ekphrasis
A prática da ekphrasis pode ser encontrada em algumas das obras literárias mais antigas. Homero, em sua Ilíada, fornece um dos exemplos mais icônicos dessa figura retórica: a descrição do escudo de Aquiles no Livro XVIII. A narrativa vai muito além de uma simples descrição do escudo, transformando-o em um microcosmo da vida humana, da guerra e da paz, da agricultura e da festa, do caos e da ordem. A ekphrasis de Homero não só apresenta o escudo, mas também explora temas e emoções humanas, utilizando a obra de arte como um meio para refletir sobre questões universais.
Outro exemplo clássico pode ser encontrado na obra de Virgílio, Eneida, na qual o poeta romano descreve os relevos no templo de Juno. Essas esculturas retratam cenas da Guerra de Troia, que conectam o destino de Eneias, o protagonista, ao destino de sua terra natal, Troia, e à fundação futura de Roma. Assim como no exemplo de Homero, a ekphrasis de Virgílio vai além da mera descrição visual, usando a arte para refletir sobre a história e o destino.
No Renascimento, a ekphrasis continuou a florescer com autores como Dante Alighieri, cuja Divina Comédia contém descrições vívidas de esculturas e pinturas no Purgatório. Outro exemplo notável é John Milton, em O Paraíso Perdido, onde ele descreve o inferno com um detalhamento que cria uma imagem visual aterrorizante e sublime na mente do leitor.
Ekphrasis na literatura moderna
A ekphrasis não se limitou à antiguidade clássica ou ao Renascimento. Ela permaneceu um recurso literário poderoso na literatura moderna e contemporânea. Poetas e romancistas utilizam essa técnica para aproximar a experiência do visual ao verbal, integrando a interpretação pessoal ao ato descritivo. Um dos exemplos mais notáveis na literatura moderna vem do poema “Ode on a Grecian Urn” (Ode a uma urna grega), de John Keats. Neste poema, o poeta descreve uma urna antiga e suas figuras, contemplando a imortalidade da arte em contraste com a transitoriedade da vida. Ao observar as figuras na urna, ele reflete sobre o significado da beleza e da verdade, culminando nos famosos versos: "A beleza é verdade, a verdade é beleza – é tudo o que sabeis na Terra, e tudo o que precisais saber". A ekphrasis de Keats não apenas descreve a urna, mas também tece uma meditação filosófica sobre o valor da arte e seu poder de transcender o tempo.
Outro exemplo contemporâneo de ekphrasis pode ser encontrado no conto "A Bela Adormecida" do autor sul-africano J. M. Coetzee, em que o narrador descreve uma pintura de Bruegel e a utiliza como ponto de partida para refletir sobre temas de sofrimento e morte. Coetzee, assim como Keats, usa a obra de arte como um gatilho para uma exploração mais profunda de ideias abstratas e emocionais.
Na poesia contemporânea, a ekphrasis é frequentemente usada para meditar sobre o papel da arte na sociedade ou sobre o próprio ato de ver. Poetas como W. H. Auden e William Carlos Williams escreveram poemas que descrevem obras de arte e, ao fazê-lo, revelam tanto sobre a obra quanto sobre o próprio observador.
Funções e impacto da ekphrasis
A ekphrasis pode cumprir várias funções dentro de uma obra literária. Primeiramente, ela pode enriquecer a narrativa, permitindo que o autor adicione camadas de significado ao integrar elementos visuais à trama ou à reflexão. Através da ekphrasis, o autor pode criar uma interação entre texto e imagem que desafia os limites da descrição tradicional. Por exemplo, a descrição do escudo de Aquiles na Ilíada não é apenas uma descrição de um objeto, mas sim uma introdução de um universo paralelo que reflete a condição humana.
Em segundo lugar, a ekphrasis pode funcionar como uma ferramenta para explorar a subjetividade. Quando um autor descreve uma obra de arte, ele não está apenas transmitindo a visão do objeto, mas também oferecendo uma interpretação dessa visão, o que implica uma mediação entre o objeto e a consciência do autor ou do narrador. Assim, a ekphrasis frequentemente se torna um meio de introspecção, revelando tanto sobre o observador quanto sobre o objeto observado.
A ekphrasis também pode ser usada para explorar a temporalidade. Obras de arte são muitas vezes vistas como estáticas, enquanto a narrativa literária avança no tempo. Ao descrever uma obra de arte em um texto, o autor pode refletir sobre a relação entre o tempo suspenso da arte visual e o fluxo contínuo do tempo na vida humana. Um exemplo disso é encontrado no poema de W. H. Auden “Musee des Beaux Arts”, onde o poeta descreve a pintura Paisagem com a Queda de Ícaro de Pieter Bruegel, destacando como a vida cotidiana continua inabalada mesmo diante de eventos trágicos, como a morte de Ícaro.
Por fim, a ekphrasis oferece uma oportunidade para uma meditação filosófica sobre a natureza da arte e da representação. Através da descrição de uma obra de arte, o autor pode questionar o papel da arte na sociedade, sua relação com a realidade e sua capacidade de transmitir verdades universais. Isso é evidente na poesia de Keats, onde a urna se torna um símbolo da eterna tensão entre a vida efêmera e a beleza imortal.
Ekphrasis e intermedialidade
Nos estudos contemporâneos de literatura e arte, a ekphrasis é frequentemente discutida no contexto da intermedialidade, ou seja, a interação entre diferentes meios de comunicação, como literatura, pintura, escultura, cinema, entre outros. A ekphrasis é vista como uma forma de transpor a linguagem visual para a linguagem verbal, criando um diálogo entre as artes. Esse diálogo pode revelar as limitações e as possibilidades de cada meio, ao mesmo tempo que explora as maneiras como eles podem se complementar.
Um exemplo de ekphrasis intermedial ocorre quando um autor descreve uma obra de arte que é impossível de existir no mundo real, como as descrições das pinturas fantásticas no romance *As Cidades Invisíveis*, de Italo Calvino. Nessas descrições, Calvino cria imagens visuais através da linguagem, provocando o leitor a imaginar essas cidades impossíveis e a refletir sobre a própria natureza da representação artística.
A ekphrasis, portanto, não é apenas uma técnica de descrição detalhada, mas um modo de interação profunda entre as diferentes formas de arte e o pensamento. Ela transforma a experiência visual em uma experiência textual, permitindo que o leitor acesse as imagens através da linguagem. Além disso, ao interpretar uma obra de arte através da ekphrasis, o autor frequentemente revela tanto sobre a obra quanto sobre si mesmo, oferecendo uma visão única que enriquece tanto o texto quanto a própria obra descrita. Dessa forma, a ekphrasis permanece uma prática central na literatura, conectando passado e presente, visual e verbal, arte e vida.
A ekphrasis é uma ferramenta valiosa para a crítica cultural no jornalismo, pois oferece uma maneira profunda de descrever e interpretar obras de arte, performances, filmes, peças teatrais ou exposições. Ao usar a técnica de ekphrasis, o jornalista não apenas fornece uma descrição detalhada da obra, mas também convida o leitor a experimentar visualmente o objeto descrito, enriquecendo a compreensão e a conexão emocional com a obra. Esse tipo de descrição transcende o relato factual, adicionando uma camada de subjetividade que permite ao crítico expressar sua interpretação pessoal e estabelecer um diálogo entre a arte e o público.
Além disso, a ekphrasis pode funcionar como um ponto de partida para reflexões mais amplas sobre questões sociais, culturais e políticas, tornando-se uma técnica poderosa para a crítica cultural. Ao descrever uma obra de arte ou performance de forma evocativa, o crítico pode explorar as emoções e as ideias que a obra suscita, conectando-a a temas mais amplos, como identidade, poder, história ou tecnologia. A ekphrasis, assim, enriquece a crítica cultural ao criar um espaço para a interpretação e a análise, ao mesmo tempo que mantém o leitor engajado com uma representação visual forte e imersiva.
Por fim, a ekphrasis contribui para a democratização da crítica cultural no jornalismo, pois permite que o público, muitas vezes não familiarizado com termos técnicos ou teorias da arte, possa se aproximar de obras complexas de maneira mais acessível. Existe aí um caráter pedagógico da ekiphrasis. Descrições vívidas e detalhadas feitas por meio da ekphrasis criam uma ponte entre o universo especializado da crítica e o leitor comum, proporcionando uma experiência estética indireta, mas impactante. Dessa forma, o uso da ekphrasis pode tornar a crítica cultural mais inclusiva, levando arte e cultura a um público mais amplo e diverso.
Tom Wolfe, em sua obra Da Bauhaus ao Caos (From Bauhaus to Our House), utiliza a ekphrasis como uma ferramenta central para descrever não apenas edifícios e estruturas arquitetônicas, mas também para satirizar e criticar o movimento arquitetônico modernista. Wolfe oferece descrições detalhadas e muitas vezes irônicas das obras de grandes arquitetos como Le Corbusier, Gropius e Mies van der Rohe, transmitindo suas formas e estilos de maneira vívida. A ekphrasis aqui serve para ilustrar as linhas rígidas, as fachadas de vidro e as estruturas minimalistas dos edifícios modernistas, ao mesmo tempo em que Wolfe revela sua insatisfação com o que ele vê como a estéril simplicidade e a alienação cultural desse movimento.
Através de sua narrativa ekfrástica, Wolfe transforma os edifícios em personagens e símbolos de uma ideologia arquitetônica que, em sua visão, afastou a arquitetura da funcionalidade e da beleza clássica em favor de um dogma estético. Ao descrever as linhas retas e impessoais da Bauhaus, Wolfe evoca imagens que não apenas refletem a realidade das construções, mas também o impacto psicológico que essas formas causam em seus habitantes e no ambiente urbano. Dessa forma, ele usa a ekphrasis para expressar seu desdém pelas correntes dominantes na arquitetura moderna, tornando as descrições mais do que meras observações visuais; elas são, essencialmente, críticas culturalmente impregnadas.
Além disso, a ekphrasis em Da Bauhaus ao Caos tem um papel fundamental na construção do tom satírico e irônico de Wolfe. As descrições minuciosas dos edifícios e de suas características são entremeadas por observações espirituosas sobre os arquitetos e suas filosofias. Wolfe brinca com o distanciamento entre a grandiosidade ideológica desses profissionais e o impacto real de suas criações no mundo, como o desconforto e a frieza que muitas de suas construções provocam. A ekphrasis, nesse caso, se torna uma técnica para revelar a distância entre a utopia arquitetônica e a vivência concreta, transformando a crítica em uma forma de descrever visualmente tanto os edifícios quanto o fracasso simbólico de seus criadores.
No jornalismo brasileiro existem exemplos do uso da ekphrasis, especialmente em críticas culturais, onde a descrição detalhada e interpretativa de obras de arte, filmes, peças teatrais e até arquitetura é uma ferramenta importante para conectar o leitor à experiência estética. Um dos exemplos mais conhecidos é o trabalho de Paulo Mendes Campos, cronista e poeta que, em suas colunas e textos culturais, fazia uso de descrições evocativas para transmitir a atmosfera e a sensibilidade de obras artísticas, criando uma ponte entre a experiência visual e a linguagem. Sua capacidade de capturar detalhes sutis e emocionais de uma cena ou obra ressoa com o conceito de ekphrasis, revelando como a arte pode ser interpretada e revivida através da palavra.
Outro exemplo relevante é o de Sérgio Augusto, jornalista cultural que, em suas críticas de cinema, literatura e artes plásticas, também utiliza essa técnica para enriquecer suas análises. Em textos sobre filmes, por exemplo, ele descrevia cenas específicas de maneira vívida, capturando a estética e a emoção dos quadros cinematográficos para trazer o leitor mais próximo da obra. Da mesma forma, ao abordar a arquitetura ou exposições artísticas, Augusto recorre a descrições minuciosas que vão além da observação visual, explorando os significados implícitos e o impacto emocional das formas e composições. Esse tipo de abordagem cria uma imersão sensorial para o leitor, permitindo que a crítica cultural vá além da análise objetiva e se torne uma experiência quase tátil.
Mais recentemente, no cenário do jornalismo cultural digital, nomes como Luiz Zanin Oricchio, crítico de cinema e colunista do Estadão, utilizam descrições ekfrásticas em suas resenhas e análises, especialmente ao comentar diretores de forte apelo visual, como Fellini e Tarkovski. Nesses textos, a ekphrasis aparece na capacidade de recriar cenas ou sequências que ajudam o leitor a visualizar o que está sendo discutido, aprofundando a apreciação da obra. Esses exemplos mostram como a ekphrasis continua a ser uma ferramenta poderosa e relevante no jornalismo brasileiro, permitindo que a crítica cultural alcance um público mais amplo e conecte o leitor à arte de maneira mais sensível e interpretativa.
Ekiphrasis no rock journalism
Lester Bangs, um dos mais influentes críticos de rock, frequentemente fazia uso da ekphrasis ao descrever a sonoridade de uma banda ou de um álbum. Embora o termo ekphrasis seja tradicionalmente associado à descrição visual de uma obra de arte, a maneira como Bangs escrevia sobre música pode ser considerada uma forma de ekphrasis aplicada ao som. Em seus textos, ele era capaz de traduzir as qualidades abstratas e imateriais da música em descrições vívidas e evocativas, permitindo ao leitor "ouvir" a música através de suas palavras.
Bangs, conhecido por seu estilo selvagem e apaixonado, não se limitava a análises técnicas ou objetivas. Em vez disso, ele usava uma linguagem carregada de metáforas, imagens e comparações para transmitir como a música soava e, mais importante, como ela fazia o ouvinte se sentir. Por exemplo, ao descrever o álbum Funhouse do The Stooges, ele capturava a intensidade caótica e primal da banda através de imagens que remetiam ao visceral e ao instintivo. Sua crítica ia além do que os instrumentos tocavam; ele trazia à tona o impacto emocional e físico que a música tinha sobre o ouvinte, o que é uma característica essencial da ekphrasis. É quase obscena a potencialidade do hipertexto hoje na internet – ele permite que ao mesmo tempo que você escreve sobre um disco você disponibilize para o leitor a faixa em streaming para ele acompanhar a leitura ouvindo a música sobre a qual se fala no texto. Mesmo assim, a ekiphrasis é um elemento de imersão na dimensão estética da obra que se critica e isso só amplia a experiência do leitor.
Portanto, embora Bangs não estivesse descrevendo uma pintura ou escultura, ele realizava uma espécie de ekphrasis musical ao criar descrições que tornavam audível o intangível, transportando o leitor para dentro da experiência sonora. Ele conseguia, com maestria, comunicar a essência de um som, não apenas através de adjetivos ou termos musicais, mas também construindo imagens mentais fortes e sensações que permitiam que o leitor "sentisse" a música, mesmo que nunca a tivesse ouvido.
A ekphrasis musical é bastante presente na crítica de rock, especialmente entre críticos que, como Lester Bangs, buscavam capturar a energia, o impacto emocional e a atmosfera única de um álbum ou de uma banda. Esse estilo de crítica visa descrever a música de uma forma que vá além da simples análise técnica, usando imagens e metáforas para evocar sensações que a música desperta. Outros críticos influentes seguiram uma abordagem similar, utilizando a linguagem descritiva de maneira inovadora para comunicar a experiência auditiva.
Greil Marcus é um exemplo clássico de um crítico que utiliza ekphrasis musical em seus textos. Em sua obra Mystery Train (1975), Marcus descreve álbuns e artistas como Bob Dylan, The Band e Elvis Presley de uma maneira que conecta o som com a história e a cultura americana. Ele não apenas explica como a música é composta, mas relaciona-a a eventos sociais, sentimentos coletivos e imagens poéticas. Marcus descreve canções como se fossem paisagens emocionais, criando uma narrativa em torno da música que vai muito além da análise convencional.
Outro exemplo é Nick Kent, crítico britânico conhecido por seu trabalho no New Musical Express (NME). Kent frequentemente usava uma linguagem cheia de metáforas visuais para descrever o som de artistas icônicos como The Rolling Stones, Lou Reed e David Bowie. Em suas resenhas, Kent transforma a música em algo quase palpável, detalhando a intensidade, a decadência ou a estranheza de uma performance ou álbum com descrições sensoriais. Ele, como Bangs, é menos interessado na técnica e mais focado no impacto emocional e estético da música sobre o ouvinte.
Robert Christgau, embora mais conhecido por sua concisão e suas críticas curtas, também faz uso de ekphrasis ao descrever a essência dos álbuns em poucas palavras. Ele tem a habilidade de captar a atmosfera e o estilo de um disco com frases curtas, porém visuais, que ajudam o leitor a "sentir" o som. Mesmo que seu estilo seja menos descritivo que o de Bangs ou Marcus, há momentos em que suas observações se tornam imagens sonoras que evocam o clima de uma obra.
Em todas essas abordagens, a ekphrasis musical oferece um modo de explorar a música de forma mais imersiva e emotiva, usando a linguagem como um meio de transformar a experiência auditiva em algo que pode ser visualizado e sentido. Isso torna a crítica de rock não apenas uma análise da música, mas uma recriação artística da experiência musical.